BULLYING

Bullying é um termo em inglês (“bully” significa “valentão”) que é utilizado para descrever atos de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticados por um indivíduo ou um grupo dentro de uma relação desigual de poder.Existem vários tipos de bullying: verbal, emocional, moral, sexual, escrito e cyberbullying. A violência física e psicológica manifesta-se através discussões, insultos, apelidos, gozos, humilhações, discriminação, exclusão, ameaças, assédio, isolamento, perseguições, roubos, dominação, brincadeiras inoportunas e cruéis, chutos, partir bens, crueldade, tiranizar, intimidação, disseminação de comentários maldosos, repressão e ridicularização.Não há qualquer dúvida que a escola tem sido um palco deste tipo comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos num verdadeiro inferno, e interferindo, inclusivamente, com o desempenho escolar. A investigação demonstra, que um dos sinais de que o aluno está sujeito a violência física e/ou psicológica é o súbito pior desempenho escolar.

O bullying na escola tendo sido nos últimos anos bastante abordado, no entanto, importa deixar claro que não se manifesta apenas nesse contexto. Atualmente, outro tipo de violência psicológica está a preocupar os especialistas de saúde mental: o Cyber bullying.

PERFIL DA VÍTIMA

A investigação indica que as vítimas são pessoas mais frágeis que o seu agressor, com alguma caraterística física ou emocional que difere dos “modelos” impostos pelos seus pares, nomeadamente, obesidade, deficiência, uso de óculos, borbulhas, introversão ou timidez, entre outras.

Revelam-se crianças ou adolescentes inseguros, passivos e introvertidos. Menos fortes e mais novos.

Não se sentem capazes de reagir aos comportamentos agressivos que lhe são dirigidos, pois consideram que não têm competências sociais necessárias para o fazer. A perceção da vítima é de que é totalmente impotente perante o agressor.

PERFIL DO AGRESSOR

O agressor ameaça e humilha repetidamente, de modo a sentir-se mais poderoso, atingir maior popularidade, e adquirir uma boa imagem de si mesmo.

Os agressores exploram a fragilidade, agredindo física e/ou psicologicamente a vítima de modo sistemático e intencional.

Consequentemente conquistam o estatuto no seu grupo de pares e gratificação psicológica.

Esta necessidade de poder de liderança é perigosa e é conseguida através da força física e também da violência psicológica.

Não manifesta qualquer empatia pela vítima. É completamente incapaz de se colocar no lugar do outro. Sente prazer em vê-lo sofrer. Mostra aversão às normas e apresenta predisposição para pequenos delitos. Revela dificuldade em transformar a frustração e raiva em diálogo.

A investigação demonstra que os agressores são pessoas populares e provenientes de famílias desestruturadas, em que a afetividade é muito pobre ou inexistente, e em que os pais exercem uma supervisão negligente.

Os pais dos agressores têm, habitualmente, um comportamento agressivo e/ou explosivo, e os filhos reproduzem esse mesmo modelo, considerando que a solução dos problemas depende deste tipo de atitude, aumentando a probabilidade de se tornarem adultos violentos, hostis e antissociais.

Os estudos sugerem que os agressores demonstram um maior risco de consumo de substâncias.

CYBERBULLYING

É na escola onde o bullying mais acontece, no entanto, este comportamento deixou de ser um fenómeno exclusivo deste contexto, sucedendo igualmente, noutros espaços de relações humanas. Para além do bullying descrito anteriormente, que sempre existiu, atualmente, deparamo-nos com uma nova forma de humilhação, denominada de cyber bullying. Este tipo de bullying é extremamente agressivo e perverso, uma vez que o espaço virtual é ilimitado e os insultos, difamações e calúnias, ampliam-se e são rapidamente alastrados, muitas vezes de forma anónima. Permite que uma imagem ou mensagem que seja publicada e visualizada por terceiros possa imediatamente ser
partilhada, vezes sem conta, e que os insultos se multipliquem rapidamente. As pessoas próximas da vítima são, muitas vezes, igualmente atingidas.Considera-se que, no bullying ou cyberbullying, existem apenas duas pessoas envolvidas, a vítima e o agressor, mas não, na realidade, existe uma outra personagem que permite a perpetuação da violência: quem observa.Encontramos observadores passivos, ainda que por medo, deparamo-nos também com pessoas que não querem envolver-se, e ainda outros que alimentam o comportamento, reforçando e participando.Não há qualquer dúvida que as crianças e os adolescentes utilizam cada vez mais a internet e que o cyberbullying implica consequências efetivas, resultando em problemas de saúde física, emocional, mental, e no limite, o suicídio.

MUDAR DE ESCOLA OU NÃO

Quando sucedem estes episódios, a criança, o adolescente e os pais, julgam que se houver uma mudança de escola ou, até mesmo, de cidade a situação será alterada e os problemas deixam de existir.

De facto, a decisão de o mudar de escola ou de cidade, em nada contribui para a mudança dos acontecimentos. Ainda que mude de escola, o seu padrão comportamental manter-se-á, o que fará com que seja sujeito a nova violência psicológica e/ou física em qualquer outra escola ou espaço. O que tem, efetivamente, que ser alterado é o padrão comportamental de vítima, e não o local no qual estuda ou vive.

CONSEQUÊNCIAS NA IDADE ADULTA

Mesmo depois de vários anos, quando mal resolvido, o indivíduo não ultrapassa os episódios em que ocorreram as agressões verbais e físicas.

A investigação indica que as vítimas desenvolvem e reforçam inseguranças, assim como comportamentos apáticos, retraídos e são completamente indefesos a qualquer ataque externo.

A Fobia social e outros transtornos, como perturbações de ansiedade e depressão, são associados aos episódios constantes de agressões verbais e físicas.

Dependendo da intensidade da violência que vivenciaram, será maior ou menor a dificuldade na gestão das suas relações interpessoais quando adultas.

Encontra-se com frequência, pessoas que foram vítimas na escola e que atualmente, ainda estão sujeitas a provocações por parte de colegas e familiares.

PRÁTICA CLÍNICA

Na minha prática clínica, no atendimento de casos de bullying, que são infelizmente muitos, os discursos apresentados, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem ou não identificam.

As vítimas de bullying, geralmente, paralisam perante os acontecimentos e têm imensa dificuldade em pedir ajuda, quer em casa quer na escola. O isolamento social, por seu lado, também os impede de procurar apoio junto de colegas e professores.

O facto de, se responsabilizarem pelos episódios de violência, considerando que a sua personalidade é que os desencadeia, contribui igualmente, para que se perpetuem.

É essencial que a vítima desenvolva um novo reportório comportamental de modo a inviabilizar qualquer ameaça, ou tentativa de violência física ou psicológica por parte do agressor.

E a boa notícia, é a de que, ainda que não se possa mudar o que ocorreu, através de apoio psicológico, é possível “reduzir os danos”, isto é, gerir os problemas que se levantam, antes que estes se agravem.

SENSIBILIZAÇÃO DE TODA A COMUNIDADE ESCOLAR

É um facto, incontestável, que o bullying é um problema mundial e que acontece em qualquer escola, nomeadamente, urbana ou rural, pública ou privada. Ocorre do mesmo modo, nas escolas primárias ou secundárias.

Importa desenvolver ações de formação e sensibilização, nomeadamente, programas em que se trabalha estratégias de intervenção e prevenção contra a violência na escola, para professores e toda a comunidade escolar, de modo a estes estejam preparados para reconhecer o bullying como danoso e identifica-lo com maior eficácia logo aos primeiros sinais.

A escola deveria, supostamente, permitir um ambiente seguro, através do qual os alunos desenvolvessem autonomia, habilidades várias, competências de socialização, assim como o respeito pela diferença e responsabilidades.

É fundamental contribuir de forma efetiva para que o ambiente escolar se transforme num local adequado, onde os valores como amizade, solidariedade, partilha, etc., sejam uma necessidade.

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.

(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)