Perturbação de Hiperatividade e Défice de atenção

O que é? Quais as causas? Quais os tratamentos mais eficazes?

Estima-se que a prevalência da perturbação de hiperatividade e Défice de Atenção é cerca de três a cinco por cento nas crianças em idade escolar (mais ou menos de seis a 12 anos de idade). O diagnóstico antes dos quatro ou cinco anos raramente é feito, pois o comportamento das crianças é muito variável nessa idade e a atenção não é atingida da mesma forma que em crianças com mais idade. Constata-se também que esta perturbação é mais frequente em meninos do que em meninas.

A tríade sintomatológica clássica da síndrome caracteriza-se por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Sintomas: Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e de trabalho, parece não escutar quando nós lhe dirigimos a palavra; não segue instruções e não termina as tarefas escolares; dificuldade de organização; evita, sente repugnância, ou recusa o envolvimento em tarefas que exijam esforço mental constante; perde objetos ou material necessário para utilizar nas atividades; distrai-se facilmente com estímulos irrelevantes, que nada está relaccionado com o que está a desenvolver no momento, e esquece facilmente o que estava a fazer. Estas crianças têm dificuldade em manter a atenção nas suas ocupações, e sobretudo terminá-las, mudam de tarefas, rapidamente, sem as terem concluído. Têm dificuldade em dedicar-se tranquilamente a atividades de lazer.

É habitual não seguir as instruções que lhe são dirigidas, e deste modo não termina as tarefas, nomeadamente as escolares.

Frequentemente corre ou sobe a locais inapropriados; dificuldade em esperar pela sua vez, intromete-se ou interrompe os assuntos dos outros; agita bastante as mãos e pés; abandona a cadeira em situações em que se espera que se mantenha sentado; dificuldade em desenvolver atividades ou brincadeiras em silêncio; fala demasiado; muito agitado; responde de forma precipitada antes de se concluir as perguntas; e mexe-se excessivamente.

Os sintomas referidos causam prejuízo ao funcionamento social, académico ou ocupacional das crianças.

Como foi referido, a hiperatividade manifesta-se pela presença frequente de determinados comportamentos. No entanto, os estudos indicam que nem sempre a hiperatividade, impulsividade e falta de atenção, está relacionada com a PHDA. Quando os comportamentos referidos surgem isoladamente, devem-se muitas vezes a dificuldades pessoais, sociais, escolares e familiares (luto, separação dos pais e outras mudanças) na vida das crianças, e não à perturbação que se está a abordar. Para que seja possível realizar-se um diagnóstico preciso de perturbação de hiperatividade e Défice de Atenção, é fundamental que pelo menos estejam presentes seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade, frequentemente na vida da criança, que se devem verificar pelo menos durante seis meses, com uma intensidade que é desadaptativa e inconsistente em relação ao nível de desenvolvimento.

Avaliação psicológica

Perante um pedido de Avaliação/Diagnóstico do perturbação de hiperatividade e Défice de Atenção, segue-se um processo de recolha de informação detalhada. Inicialmente, realiza-se a entrevista com os pais, de modo a recolher toda a informação sobre o historial de desenvolvimento, médico, psiquiátrico, familiar, social, e escolar da criança. De seguida, os professores e diretores de turma são também contactados, com o objetivo de complementar a informação presta- da pelos pais, acerca do seu comportamento em contexto escolar.

Uma vez reunida todo a informação, é possível descrever a situação problemática nos vários contextos em que a criança está inserida. É comum os pais fornecerem ao psicólogo informações relevantes, e os professores tenderem a superestimar os sintomas de TDAH, principalmente quando há presença concomitante de outro transtorno disruptivo do comportamento.

No final da avaliação, que decorre habitualmente em quatro e cinco sessões, informa-se os pais sobre as conclusões e entrega-se um relatório, com a descrição aprofundada das áreas que foram avaliadas e das necessidades terapêuticas existentes, e o que deverá ser trabalhado em casa e na escola.

Intervenção psicológica

A PHDA pode ocorrer em diferentes graus de intensidade, com sintomas variando entre leves e graves. Dependendo da gravidade destes sintomas, a hiperatividade pode comprometer o desenvolvimento e a expressão linguística, a memória e habilidades motoras da criança.

Vários estudos têm indicado que as crianças com PHDA são frequentemente acusadas da sua falta de atenção, mas, o que acontece na realidade é que elas estão atentas a tudo ao mesmo tempo. As suas dificuldades prendem-se com o facto de não conseguirem focalizar a atenção de forma seletiva.

Situações como as que ocorrem com determinadas crianças, que têm um mau comportamento em casa mas na escola não, ou vice-versa, provavelmente não têm a ver com hiperatividade, o que pode estar a acontecer é a falta de limites impostos pelos pais em casa ou pelos professores na escola.

É fundamental que as causas sejam devidamente identificadas de forma a iniciar um tratamento adequado. A falta de um bom diagnóstico diferencial pode comprometer o tratamento. Ao psicólogo, compete distinguir entre a criança normalmente ativa e enérgica, e a criança realmente hiperativa. A intervenção será implementada de acordo com as características pessoais e as problemáticas da criança e consiste em programas comportamentais, que incluem estratégias que permitem desenvolver as áreas que apresentam lacunas.

A psicoterapia e/ou tratamento farmacológico são indicados para a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.

A abordagem em contexto escolar

Na escola, e dado que as crianças com esta problemática manifestam frequentemente problemas de comportamento e dificuldades de aprendizagem, importa elaborar um programa de intervenção, que poderá envolver algumas estratégias cognitivo-comportamentais e educativas. O objetivo desta abordagem será contribuir de forma objetiva para melhorar o comportamento na sala de aula e ajudar os professores a lidar com estes alunos.

O programa pretende igualmente proporcionar uma melhoria no rendimento escolar, autonomia e autoestima da criança, assim como promover um relacionamento adequado com os colegas e professores.

De acordo com o que foi referido ao longo da descrição da perturbação, é evidente a complexidade, no que diz respeito ao diagnóstico. A avaliação envolve a recolha de bastante informação e de vários aspetos, nomeadamente os sintomas, sendo necessário avaliar desde muito cedo.

O tratamento farmacológico na PHDA tem sido bastante contestado, por se considerar muitas vezes excessivo e desnecessário.

Por fim, e por ser um tema sempre bastante atual, entende-se que novos estudos e pesquisas possam permitir um diagnóstico cada vez mais precoce que possibilite rapidamente intervir e minimizar as dificuldades sentidas pelas crianças.

A PHDA necessita de uma abordagem multidisciplinar no sentido de reduzir as complicações a curto e longo prazo, e permitir sucesso urgente da intervenção, e melhor qualidade de vida da criança, a nível emocional, social e escolar.

Artigo | SAPOLIFESTYLE | 2013

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.

(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)