O CASAL, A COMUNICAÇÃO E A NEGOCIAÇÃO

A comunicação é fundamental em qualquer relacionamento, poder-se-á até afirmar que é um dos pilares de todos os relacionamentos, sejam de que tipo forem. No entanto em relações de maior intimidade, nomeadamente nas relações de casal as dificuldades de comunicação são bastante complexas e originam um número imenso de discussões e conflitos graves que as comprometem.

É frequente os casais tenderem a mostrar uma “máscara social” quando se conhecem de modo a irem ao encontro do que consideram que o/a companheiro/a gosta e admira, e muitas vezes também influenciados pelos padrões de relação com os quais viveram e que lhes foram incutidos pelas suas famílias de origem, ainda que inconscientemente.

Relativamente ao companheiro/a, importa que este/a saiba e conheça o que o outro sente, pensa, pretende e o que vai sucedendo na sua vida e também que esteja presente quando dele eventualmente necessita.

Quanto mais que uma pessoa se esforce por conhecer e comunicar com outra maior será a probabilidade de a conhecer ainda melhor, embora ninguém se conheça na totalidade.

Os estudos indicam que a incomunicação conjugal é o primeiro e principal problema entre os casais. Ainda que homem e mulher comuniquem de forma diferenciada, nomeadamente pela diferença de género, a mesma é essencial a vida do casal. Quando não comunicamos separamo-nos, distanciamo-nos e consequentemente rompe-se ou destrói-se a unidade ou entidade denominada de casal. A incomunicação conjugal é diretamente responsável por conflitos, separações e divórcios que se vão sucedendo.

Quando uma relação é pautada por uma comunicação livre, simples, equilibrada, fluída e ainda profunda, a união entre o casal é sólida e eficaz.

Como não pode deixar de ser, a comunicação entre o casal é essencial para que uma relação seja sustentável e promissora.

A investigação indica vários motivos que originam dificuldades de comunicação no casal, nomeadamente apenas falar e não ouvir o que o outro pretende dizer; não ser honesto e também usar comunicação indireta que não leva ao ponto que se pretende.

Os estudos indicam também alguns erros de comunicação, que são bloqueadores de entendimento entre as partes. Quando se transmite só partes da informação; e quando usamos o momento errado para introduzir um determinado tema que consideramos importante, e a atenção do outro para ouvir está diminuída, entre outros.

O/A companheiro/a deverá ser questionado se é o melhor momento para abordarem determinado assunto, permitindo que o outro crie o hábito de o

fazer também quando necessitar de falar sobre algo. O momento considerado ideal para tratar determinados assuntos que impliquem algum foco, será quando ambos estão a dedicar-se a uma atividade que não exige grande atenção e contacto visual, como passear, cozinhar, entre outras.

Algumas pessoas iniciam a conversa com “não vais gostar do que te vou dizer”, o que obviamente vai aumentar a ansiedade do companheiro/a colocando-o/a na defensiva. O ideal será: “sei que eventualmente pode não ser fantástico para ti, mas acredito que te possas divertir na festa da Maria”. Ainda que esta festa não lhe agrade a reação será obviamente mais positiva.

A honestidade, por seu lado, também nem sempre é bem recebida nem tem que ser usada, muitas vezes é totalmente dispensável, por ex.: “não vistas essa camisola fica-te mal”.

A COMUNICAÇÃO VERBAL/NÃO VERBAL

Outro aspeto essencial da comunicação é a existência da mensagem verbal e não-verbal (com a forma como nos apresentamos, usamos a voz ou a posição do corpo). A mensagem não-verbal associa-se à mensagem verbal. Quando se acrescenta uma mensagem não-verbal a uma mensagem verbal, como quando cumprimentamos alguém que gostamos com um sorriso, etc., estas mensagens estão de acordo. Pelo contrário, quando dizemos a alguém que estamos felicíssimos e a nossa expressão facial é de zanga, o verbal e o não- verbal não estão de acordo e o recetor não compreende a mensagem nem sabe como reagir à mesma.

Não é possível não comunicarmos, a comunicação está sempre presente ainda que de formas diferentes e em contextos diferentes.

Deparamo-nos também com casais que se encontram muitas vezes, inclusivamente, em silêncio, e ainda assim estão a comunicar um com o outro.

É comum falar-se do facto do casal de um modo geral, para construir uma relação co qualidade necessitar de comunicar ou comunicar mais para obter uma melhor relação. Este aspeto é muito referido quando as relações no casal são abordadas por familiares, amigos, colegas de trabalho, etc.

Outro dos obstáculos a uma comunicação eficaz prende-se nomeadamente, com um pensamento absolutista do tudo ou nada ex.: gostas de mim ou não gostas; as mensagens com indicações incompletas ex.: tu sabes o que é…; e a conhecida “leitura da mente” ex.: tu sabes muito bem o que eu pretendo; etc.

A mensagem é passada do emissor para o recetor com a certeza absoluta de ter chegado totalmente percetível, no entanto a mensagem enviada é portadora de vários erros de interpretação e lança-se a confusão, uma vez que o recetor atua de acordo com a mensagem entendida.

O EU, O TU E O NÓS: COMUNICAÇÃO E NEGOCIAÇÃO

Em cada casal existe o eu, o tu e o nós, isto é, estão presentes as características pessoais de cada um e o modo como o eu e o tu interagem e comunicam entre si.

São várias as competências que permitem aos casais resolverem dificuldades de comunicação, como encontrar tempo para estar, falar e ouvir; não dizer tudo de negativo que se lembrem; estar em contacto com os sentimentos; e aceitar sem julgar.

Um casal que não demonstre competências para comunicar e negociar tende a potenciar discussões e pontos de atrito.

Não são poucas as vezes em que em consulta de casal, é ouvido pela primeira vez o conceito “negociação”. Esta estratégia consiste na possibilidade de promover no casal um espaço de partilha de emoções, sentimentos, desejos e interesses sobre os próprios e sobre a relação, que articulado permite satisfazer o interesse de ambas as partes a vários níveis.

A comunicação é considerada eficiente quando as decisões são satisfatórias para ambos e desenvolvem paralelamente um sentimento de cumplicidade e de responsabilidade pela relação.

PSICOTERAPIA DE CASAL

A psicoterapia permite num espaço próprio, desenvolver o conhecimento de cada um dos elementos do casal e também o que pretendem um do outro. Este trabalho em consulta tem como objetivo que sejam devidamente compreendidos os padrões de comunicação e de relação entre eles, de modo a possibilitar e acima de tudo promover uma relação de harmonia. O foco está na comunicação entre as partes e nas dificuldades específicas que estão a vivenciar.

As sessões de casal permitem melhorar a comunicação, abordar e trabalhar os valores importantes para o casal, perceber os pontos de conflito, as necessidades de cada um, e negociar e equilibrar as diferenças existentes. Todos nós queremos ter alguém que ouça o que temos para dizer.

A psicoterapia de casal permite facilitar e desenvolver novas capacidades comunicacionais e formas mais eficazes de a realizar e assim melhorar significativamente a qualidade da relação e a satisfação conjugal.

Artigo | Revista Insights | 2013

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.

(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)