MUTISMO SELETIVO

O QUE É O MUTISMO SELETIVO

O Mutismo Seletivo (MS) é caracterizado pela incapacidade persistente em falar em situações específicas apesar do discurso fluente ser possível noutras circunstâncias. Segundo alguns investigadores o Mutismo Seletivo é identificado entre os 6 e 8 anos, no entanto, surgem sintomas, aproximadamente, a partir dos 3 anos de idade e ocorrem com maior frequência em meninas do que em meninos. As queixas acentuam-se sobretudo no final do Jardim de Infância e início do 1º Ciclo. É nesta idade mais precoce que as crianças são mais renitentes em relacionarem-se com pessoas estranhas e estabelecerem contacto.

CAUSAS DO MUTISMO SELETIVO

Existem estudos que indicam causas no desenvolvimento do Mutismo Seletivo. A herança genética, uma vez que a maioria das crianças com diagnóstico de mutismo seletivo, revela uma predisposição genética de sintomas de ansiedade, que é agravada pelas situações hostis ou de stress que ocorrem na sua vida. Os traços de personalidade foram também analisados, e concluiu-se que existiam características comuns, nomeadamente, medo, negativismo, dependência, isolamento, evitação social e preocupações excessivas. As interações familiares foram também observadas. Aferiu-se que o Mutismo Seletivo é mantido, sobretudo, na presença de determinadas características familiares, designadamente, a relação simbiótica, dependente e controladora entre pais e filhos, mães passivas, deprimidas, hostis, solitárias, e que evitam situações sociais.

A CRIANÇA COM MUTISMO SELETIVO

Caracterizam-se, geralmente, por uma excessiva dependência, perfecionismo e rigidez, comportamento tímido ou retraído, e socialmente inseguro.

Evitam o olhar. Comunicam, habitualmente, através de gestos, acenando a cabeça e apontando, ou permanecendo imóveis, até que se consiga “adivinhar” o que pretendem. Quando falam, o volume da sua voz é muito baixo, ou então, sussurraram ao ouvido. Procuram “fugir”, seriamente, a todas as situações sociais em que se sintam expostas, de modo a evitar momentos que impliquem ansiedade. Compreendem o idioma e têm a habilidade para falar normalmente. Expressam, habitualmente, um grande desejo para falar em todas as situações, mas são incapazes de o fazer, devido ao medo, timidez, ansiedade e embaraço. Podem passar todo o tempo completamente calado na escola, por anos, mas falar livremente ou excessivamente em casa. Aprende aquilo que é considerado adequado para sua idade escolar. A maioria não é capaz de falar na escola, e também em outras situações longe do convívio familiar. Por vezes, não falam, inclusivamente, com determinadas pessoas do círculo familiar. Manifestam dificuldades nas situações onde se espera que falem, como um cumprimento, agradecimento, ou despedida.

O medo de falar desencadeia várias alterações corporais, nomeadamente, tensão muscular, aumento da sudação e ritmo respiratório, e da pulsação cardíaca.

A análise feita por uma grande parte das pessoas que convivem, diária e diretamente com a criança é de que é apenas tímida, e que esta situação será temporária e superada.

Na verdade, as crianças com mutismo seletivo, não revelam atraso cognitivo, nem tão pouco perturbação da linguagem ou alterações profundas de desenvolvimento. O que na realidade acontece, é sentirem um medo exagerado e ansiedade que gera o silêncio quando estão na presença de pessoas estranhas ou com as quais não estão à vontade.

Esta perturbação interfere de forma significativa, na realização das atividades escolares, ocupacionais e também na comunicação social da criança.

A entrada no Jardim de Infância ou 1º ciclo aparece na sua vida, como uma das primeiras mudanças significativas, uma vez que têm a necessidade e inclusivamente, a obrigatoriedade de contactar com estranhos.

Assim, quando as crianças não participam nas atividades realizadas na escola, o mutismo seletivo pode exacerbar-se, limitando as interações grupais, comprometendo, assim, a sua adaptação à escola.

ESTRATÉGIAS PARA PAIS

É fundamental, promover e estimular a comunicação do seu filho desde os primeiros anos de vida. Desde que a criança começa a falar, é essencial, ensina-la a expressar-se em diferentes situações sociais. Expressões depreciativas, como, “Tu não tens vergonha”, “Nunca falas”, “Quando é que mudas?” “Tens que falar”, “Tens que cumprimentar as pessoas”, não deverão, de modo algum, ser usadas.

Alguns pais de crianças com mutismo seletivo têm por hábito terminar as frases dos seus filhos, este comportamento, é considerado totalmente desaconselhável.

Os pais não deverão conversar sobre os filhos com outras pessoas, inclusivamente, da família, sem se certificarem que não está a ouvir.

É imprescindível a promoção de autonomia, nomeadamente, através de tarefas diárias como, arrumar o quarto, vestir-se, lavar os dentes, etc.

Não obrigar a criança a falar quando se recusa.

É importante, incentivar momentos e tarefas sociais que implique que o seu filho tenha necessidade de pedir algo, por exemplo, num café (“Queria um chocolate, por favor”.)

Convidar os amigos dos seus filhos para brincarem em sua casa.

Os filhos deverão sentir que os pais estão serenos, sempre que, de alguma forma evita falar com alguém.

Transmitir, sempre que possível, segurança e bem-estar e nunca o superproteger.

A comunicação com a escola, nomeadamente, uma boa articulação, é um dos fatores que favorece a resolução.

A CRIANÇA COM MUTISMO SELETIVO E A ESCOLA

O que é suposto é que após a fase de integração, as crianças se sintam seguras, adquiram confiança nelas próprias e comecem a estabelecer vínculos afetivos com as pessoas que as rodeiam, nomeadamente, os colegas e professores.

Quando o silêncio se vai prolongando no tempo e se generaliza à maior parte das pessoas, ainda que com a família isso não aconteça, estamos perante um comportamento desadaptativo. Assim, desencadeiam-se sentimentos negativos, baixa auto estima e, inclusivamente, dificuldades relacionadas com o seu rendimento escolar.

Os professores e educadores mencionam nos relatórios escolares, que me são entregues pelos pais na consulta, que não lhes é possível avaliar devidamente a criança, ainda que conheçam a sua capacidade intelectual, uma vez que a informação que dispõem para o fazer, não é suficiente, comparativamente às outras crianças.

ESTRATÉGIAS PARA EDUCADORES OU PROFESSORES

Num primeiro momento, importa mostrar à criança com Mutismo Seletivo, que a aceitamos e respeitamos, e que queremos que seja feliz naquele espaço, dentro do que conseguir ser e fazer. É necessário, também, indicar-lhe que existem tarefas, atividades e regras, que deverão ser cumpridas.

Nesta fase inicial integrar a criança, através de jogos com o grupo, é fundamental e resulta, habitualmente, muito bem.

Os jogos com o grupo de pares, nomeadamente, a introdução de valores, e orientados pelos educadores, evitam um processo que acontece com muita frequência, o Bullying.

Promover a expressão de emoções e sentimentos através do desenho e incentivar atividades ou tarefas não verbais, designadamente, jogos tais como puzzles e outros são recursos extremamente interessantes e facilitadores.

A utilização de cartões com cores ou desenhos, através dos quais indica o que sente e quer favorece, igualmente, a comunicação e a proximidade num primeiro momento da interação.

É importante manter um contato visual intenso com estes alunos, no entanto, quando perceber que para ele o olhar estará a ser incomodativo, deve respeitar, e desvia-lo.

Não esquecer a necessidade de promover oportunidades, com empatia e paciência para que a criança fale sem a pressionar.

Evite colocá-la em situações que sejam constrangedoras, e procure que ela própria as identifique e seja capaz de o fazer sem qualquer ajuda.

Proporcionar momentos em que se contam histórias, por exemplo, através de fantoches.

Estimular a interação social, procurando que de forma natural a criança se integre na turma.

Oferecer a esta criança a mesma atenção que dá as outras.

Atribuir tarefas de responsabilidade à criança, sobretudo, aquelas que impliquem uma colaboração direta com a professora, tais como, registos de presenças, e, também, entrega e recolha de trabalhos.

Importa evitar e corrigir qualquer tipo de verbalização depreciativa, uma vez que, são poucas as situações em que os colegas se manifestam com comentários como “Ele nunca fala”, “ Não brincamos com ela porque foge de nós”, ”Nunca quer brincar”, “Quer estar sempre sozinha”.

Encorajar e simultaneamente dar tempo a criança a responder a uma questão que colocam na sala, não permitindo que seja outra a responder, ex.“Podes responder amanhã ou outro dia se preferires”, “ Não tens que responder agora”.

Comunicar aos pais, sempre que surja alguma alteração comportamental, considerada significativa.

TRATAMENTO

Após a Avaliação Psicológica, se necessário, deverá ponderar-se a abordagem farmacológica, na medida em que, pode auxiliar na diminuição dos seus níveis de ansiedade.

A criança com MS manifesta um medo excessivo, associado a um enorme sofrimento emocional, como tal, necessita de receber um tratamento a tempo e eficaz. Se não houver uma intervenção psicológica, urgente e eficiente, e se este comportamento persistir, poderá conduzir a situações como depressão, ideias suicidas, fobia social, adições, insucesso e abandono escolar, entre outros.

A investigação demonstra que a intervenção psicológica, que se apoia em técnicas cognitivo-comportamentais, é bastante útil e aconselhável.

A terapia familiar é, igualmente, uma abordagem profícua, quando a dinâmica familiar presente, tem um papel importante no desenvolvimento e perpetuação do MS.

Alguns estudos indicam que há benefícios no tratamento combinado, que inclua a abordagem farmacológica e a psicoterapia.

Um tratamento precoce que tenha como prioridade uma articulação favorável com a família e a escola é um excelente preditor de sucesso.

Artigo | Revista Insights | 2014

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.

(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)