COMPRADORES COMPULSIVOS E FALÊNCIA ECONÓMICA
Quando se pensa em ir às compras, muitos de nós consideram que é uma forma agradável, divertida e saudável de passar o tempo, a menos que se converta numa obsessão diária.
De facto, é considerado comprador compulsivo quando, em determinado momento, começa a contabilizar prejuízos pessoais, financeiros e de relacionamento, famílias e outros, provocados pelo descontrole nas compras.
Assim sendo, a compulsão pelas compras, representa um transtorno mental, uma vez que o ato de realizar as compras de forma compulsiva e sem controle tem várias consequências e bastante penosas para o próprio e também para a sua família.
Os estudos indicam que esta problemática afeta imensas pessoas na faixa etária dos 35 ao 40, na sua maioria mulheres que atingem alguma estabilidade económica.
Há um apelo muito forte à aquisição de bens, nomeadamente na publicidade que nos chega através dos meios de comunicação, e também a pressão de uma sociedade consumista, em que muitas vezes as pessoas são avaliadas por aquilo que possuem, ostentam ou podem comprar. Na maioria dos casos, são pessoas (homens e mulheres) que desejam reconhecimento e aceitação social por meio dos bens que ostentam. Quanto mais possuem, mais se sentem queridas e valorizadas por si mesmas e pelo círculo social. De referir também que homens e mulheres que ascenderam socialmente, começam a comprar compulsivamente para se sentirem inseridos no novo grupo de convívio.
É demonstrado também que as mulheres compram de um modo mais compulsivo do que os homens, e que os artigos que a mulher adquire com mais frequência são: vestuário, sapatos, produtos de beleza, joias e acessórios.
Em psicoterapia são vários os discursos produzidos pelos compradores compulsivos: “Comprava uma blusa e, quando chegava a casa, concluía que tinha outras duas ou três muito semelhantes aquela. “Tenho botas e sapatos de todas as cores” “Preciso do novo telemóvel da marca x ou y, tenho que o comprar” “eu mereço um computador novo, apesar de ter um”. “Vou conseguir entrar no Shopping sem fazer qualquer compra, muito menos endividar-me”.
PERFIL DO COMPRADOR COMPULSIVO
O comprador/a compulsivo/a, possui baixa auto estima; é facilmente manipulável; impressiona-se facilmente com as novidades; está sistematicamente a pensar na compra de objetos que geralmente nunca vai usar; tem dificuldades de auto controlo; tem níveis elevados de ansiedade; é depressivo/hipomaníaco; tem problemas de solidão; e em muitos casos manifesta dificuldades afetivas, sexuais e profissionais.
As compras aparecem vulgarmente como um mecanismo de compensação para preencher alguma insatisfação pessoal, e desta forma sentem-se mais autoconfiantes e realizados. O comprador compulsivo, não necessita de um motivo específico para realizar as aquisições. Sente uma ansiedade enorme que antecede e cresce com o desejo pela compra, e que abranda quando a executa. Sente-se eufórico, quando ela é concretizada e de seguida tristeza pelo sentimento de culpa que aparece.
Quem compra compulsivamente um ou mais produtos completamente desnecessários, revela necessitar de esquecer dificuldades emocionais, afastar frustrações, tentando desta forma elevar a sua auto estima e diminuir a ansiedade que sente, consequência de episódios ou acontecimentos na sua vida.
DA COMPRA “COMUM” À CONSIDERADA EXCESSIVA
É possível distinguir o consumidor chamado comum, que é invadido por um desejo súbito, imprevisível e totalmente espontâneo para comprar algo, do consumidor compulsivo, cujo comportamento é descontrolo, inadequado e com consequências penosas para o próprio.
Estes comportamentos interferem seriamente com o mecanismo de prazer e adquirem muitas vezes características patologias incontroláveis.
Para os compradores compulsivos, as compras representam um paliativo que diminui a ansiedade e lhes traz a sensação de serenidade, no entanto, o bem estar é breve, e regressa rapidamente o mau estar, ansiedade e humor depressivo. Este ciclo vicioso é bastante complexo e fragiliza cada vez mais, quem dele padece, perpetuando-o.
A compulsão não passa senão, de um impulso com o objetivo de aliviar a falta de algo, e que no momento em que adquirimos um produto sentimos um pequeno alívio. Na realidade o que nos falta é algo, relacionado muitas vezes com outras questões, talvez intelectual, afetiva, produtiva, profissional, sensitiva, desenvolvimento emocional, mental, etc.
É comum pensarmos que os comportamentos compulsivos estão apenas associados a álcool e outras drogas. De fato, pessoas dependentes de substâncias, manifestam esse tipo de comportamento, mas não só. Está efetivamente demonstrado, que existe no nosso cérebro um circuito de recompensa, que mede a nossa relação com situações de prazer, como sexo, refeição que se aprecia bastante, ir as compras, ou estar com amigos de quem gostamos muito.
O grau de prazer experienciado na situação, vai estimular o circuito em diferentes níveis. O prazer resulta de uma alteração no cérebro relacionada diretamente com a libertação de um neurotransmissor denominado de dopamina.
Quando o comportamento se repete consecutivamente, a ação da dopamina tende a esgotar-se, o indivíduo não se sente bem, e necessita repetir o estímulo externo frequentemente, para manter os níveis de dopamina.
SUGESTÕES PARA MINIMIZAR OU EVITAR OS COMPORTAMENTOS COMPULSIVOS
TRATAMENTO
A investigação indica que, o tratamento que tem resultados efetivos, é Psicoterapia Cognitivo-Comportamental.
A medicação, através de anti-depressivos, poderá eventualmente diminuir os sintomas, mas não é totalmente eficaz em todos os indivíduos.
Ir a descoberta de nós próprios e identificarmos os sinais de desconforto que desencadeiam os comportamentos associados às compras compulsivas, só é possível, quando entramos em contacto connosco mesmos, nomeadamente em terapia.
Artigo | Revista Insights | 2013
AUTORA
Dr.ª Márcia Gonçalves
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)
AUTORA
Dr.ª Márcia Gonçalves
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta