ANOREXIA E BULIMIA NA ADOLESCÊNCIA
Cada vez mais se observa um aumento significativo no número de casos de transtornos alimentares, nomeadamente, a Anorexia e Bulimia. O tema tem vindo a ser abordado sob vários aspetos, especialmente do ponto de vista psicológico, fisiológico e social nos mais diversos meios de comunicação social.
Neste artigo, o público-alvo será apenas o sexo feminino, ainda que os transtornos alimentares se verifiquem igualmente no sexo masculino, no entanto em menor número.
Abordar este tema constitui, sempre, um desafio.
A investigação revela que revistas e reportagens sobre beleza em que se evidenciam padrões estéticos rígidos, compromete seguramente a sua saúde física e mental das adolescentes.
É evidente que com a puberdade surge uma maior acumulação de gordura corporal no sexo feminino. Esta alteração/mudança desencadeia uma maior insatisfação com a imagem corporal e sentimentos negativos em relação ao seu tamanho e forma.
As adolescentes que revelam um medo exagerado de engordar desenvolvem comportamentos de risco, tais como, dietas exageradas, exercício físico excessivo, medicação (laxantes, diuréticos e outros) e provocação de vómitos, promovem os transtornos alimentares.
A investigação indica que as perturbações alimentares, habitualmente, têm início na adolescência, mas poderá acontecer na infância ou, após os 20, e até após os 40 anos de idade.
As práticas inadequadas de controlo de peso entre adolescentes, apresentam dados alarmantes.
CAUSAS DA ANOREXIA E BULIMIA
Alguns estudos indicam que a baixa auto estima e a distorção da imagem corporal são os principais responsáveis pela procura de um emagrecimento rápido e continuado, recorrendo permanentemente ao jejum, exercício físico exagerado e uso de laxantes ou diuréticos.
A investigação sugere também que os transtornos alimentares são mais comuns quando na família, nomeadamente a mãe, já passou por algum.
O ambiente familiar constitui um dos fatores que contribuem, significativamente, tanto para o desencadeamento como para a manutenção da perturbação.
Outras pesquisas mostram que as raparigas provenientes de meios socio económicos e culturais mais elevados e diferenciados têm uma maior incidência desta perturbação. Outros estudos consideram que a ocorrência de episódios traumáticos, nomeadamente, a rejeição familiar, abuso psicológico, físico ou
sexual, constitui-se como fator de risco para desenvolvimento destas problemáticas.
Outros autores mencionam que uma das principais causas será a obesidade na infância.
A investigação sugere, também, que estas adolescentes são oriundas de famílias com comportamentos obsessivos, com tendência para a exigência e o perfeccionismo.
ANOREXIA
Embora existam vários sinais físicos e comportamentais associadas aos sintomas de anorexia nervosa, nem todos os sinais se manifestam em todas as pessoas. Alguns sinais de alerta: perda excessiva de peso; medo de engordar intenso e irracional; negação quando questionadas sobre o transtorno; restrição da alimentação; obsessão com as calorias e gorduras; recusa a comer junto a outras pessoas; prática excessiva de exercício físico; Depressão (tristeza e/ou apatia); solidão (evita amigos e familiares); torna-se intolerante ao frio, devido a perda de isolamento de gordura corporal; e os períodos menstruais tornam-se irregulares ou mesmo inexistentes.
Importa salientar que é comum a anorexia ter início nas vulgares dietas das adolescentes.
O quadro desenvolve-se para anorexia quando a dieta e a perda de peso permanecem, até que são atingidos níveis de peso muito inferiores aos esperados para a sua idade, perdendo a autocrítica sobre a situação.
As adolescentes com anorexia nervosa não ingerem uma quantidade de alimentos necessária para suprir as necessidades nutricionais de calorias, proteínas, vitaminas e minerais.
Geralmente, diminuem o número de refeições e preferem alimentos com baixa caloria ou permanecem em jejum por tempo prolongado.
O resultado final é a perda excessiva de peso com grandes consequências físicas e psicológicas.
As adolescentes com anorexia têm uma imagem corporal distorcida e, mesmo estando extremamente magras, veem-se gordas.
Isso justifica para elas a restrição alimentar cada vez mais rigorosa e a utilização e abuso de drogas laxativas e inibidoras do apetite.
Poderão apresentar um atraso na maturidade sexual e no crescimento físico, e muitas vezes não atingem a estatura esperada.
Existe um grande risco de desnutrição grave e redução perigosa dos níveis corporais de água, minerais e vitaminas, podendo comprometer as funções de
órgãos como pulmões, coração, vasos sanguíneos, intestinos e pele. Pode incluir, também, possível infertilidade e depressão grave.
Se a anorexia não for corretamente tratada tem alta probabilidade de evolução para a morte.
BULIMIA
A Bulimia nervosa manifesta-se através de uma alimentação compulsiva seguida de purgação ou comportamentos compensatórios inadequados (jejuns e/ou exercícios físicos excessivos). É um distúrbio alimentar caracterizado por um ciclo de atração/ purgação de alimentos. Existe um consumo de alimentos muito superior ao que seria ingerido pela maioria das pessoas num determinado período de tempo, acompanhado de sensação de perda de controlo.
Através da indução do vómito, uso de laxantes e exercícios físicos excessivos, as bulímicas conseguem perder peso mas, por outro lado, têm episódios de alimentação compulsiva que não conseguem controlar (comem em pouco tempo vários pacotes de bolachas, chocolates, etc.). Depois destes episódios, a bulímica irá induzir o vómito e sentir-se-á muito culpada e deprimida. Surge, então, um ciclo vicioso e este padrão caótico de alimentação instala-se.
Alguns sinais de que estamos na presença de Bulimia: medo de engordar; mentir sobre os alimentos que ingerem; comer compulsivamente em segredo; demonstrar uma preocupação profunda em relação ao peso; esconder-se em roupas largas e soltas; esconder laxantes e diuréticos; vomitar em segredo; deixar água da torneira ou duche a correr na casa de banho para disfarçar os episódios de purgação; queixas em relação a problemas dentários; e outros.
A bulimia nervosa parece ser mais comum que a anorexia, mas não compromete tanto o estado nutricional como acontece na anorexia. A adolescente poderá manter o peso dentro da normalidade.
PERFIL DA BULÍMICA
PERFIL DA ANORÉTICA
SINAIS DE ALERTA PARA A FAMÍLIA
PRÁTICA CLÍNICA
INTERVENÇÃO
As perturbações alimentares implicam, não poucas vezes, complicações médicas e psicológicas sérias.
O tratamento psicológico é complexo, no entanto, os estudos demonstram que a abordagem Cognitivo-Comportamental revela-se como a mais eficaz nestas perturbações.
Após uma profunda análise dos resultados da avaliação médica e psicológica, poderá, se necessário, ser indicada intervenção farmacológica.
O tratamento da anorexia nervosa e da bulimia deve envolver, necessariamente, uma equipa multidisciplinar, nomeadamente, médico de família, pediatra, psicólogo, pedopsiquiatra e nutricionista.
Não esquecer que o apoio familiar em todo o processo terapêutico é essencial.
Artigo | Revista Insights CPLP-Online | 2015
AUTORA
Dr.ª Márcia Gonçalves
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)
AUTORA
Dr.ª Márcia Gonçalves
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta