A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES NA ADOLESCÊNCIA

A adolescência é uma fase de inúmeras alterações biológicas, psicológicas e sociais, entre as quais estão as transformações nas relações familiares.

A relação entre pais e filhos é um tema bastante atual e recorrente na investigação, uma vez que existe uma preocupação crescente, no sentido de como a relação parental pode afetar o desenvolvimento e comportamento saudável dos adolescentes.

Os estudos indicam que a qualidade da relação entre pais e filhos encontra-se relacionada com um percurso de sucesso dos adolescentes.

Para além da importância da relação familiar, as competências sociais também se apresentam como um fator protetor de dificuldades e perturbações durante esta fase, e cooperam em paralelo para a qualidade de vida e das relações interpessoais nos diferentes contextos.

À medida que os filhos crescem, deslocam o investimento emocional que era anteriormente focado nos pais, para o grupo de pares na procura de relações consideradas mais recíprocas e igualitárias, contrarias às relações hierárquicas que existem na família.

A importância do papel assumido pela família, na adolescência, não tem sido consensual entre os investigadores. Alguns consideram que as relações com os pares são determinantes na adolescência e outros sustentam a ideia que a relação com a família é que é essencial durante este período.

Do meu ponto de vista, ambas são de facto extremamente relevantes. Apesar da crescente importância atribuída ao grupo de pares pelos adolescentes, a família desempenha um papel fundamental no seu bem-estar e equilíbrio.

As relações interpessoais são um fator protetor no que diz respeito a problemáticas como o isolamento, depressão, e ansiedade e adaptação a novos ambientes e níveis de escolaridade.

O relacionamento familiar e as práticas parentais influenciam, necessariamente, a auto estima, as competências sociais e o desempenho escolar dos adolescentes.

Desde sempre existiram conflitos entre pais e filhos. Atualmente, os conflitos estão especialmente relacionados com as rotinas familiares, hábitos alimentares, aspeto físico(imagem), horários de chegada a casa, relações de namoro e resultados escolares, entre outros.

Pais que acompanham devidamente os seus filhos, nomeadamente com supervisão do comportamento, disciplina consistente, compreensão e afeto nas interações, promovem nos seus filhos uma auto estima mais positiva.

É essencial que mãe e pai, sempre que possível, partilhem a supervisão e disciplina em conjunto. Se eventualmente, algum dos pais for “excluído” vai perder necessariamente o estatuto, enquanto agente de autoridade.

Em situações como divórcios ou separações um dos pais poderá estar eventualmente menos presente e aí sim também existir algum tipo de problemática, mas não tem obrigatoriamente que acontecer.

A investigação indica alguns estilos parentais de educação dos filhos. Encontram-se famílias autoritárias, em que os pais são extremamente rígidos, frios, distantes e controladores com exigências de padrões perfeitos de comportamento. As famílias democráticas colocam a tónica da educação, no uso da razão e das regras. Estabelecem limites e expectativas firmes e utilizam o sistema de recompensas e punições. São sensíveis aos desejos, interesses e necessidades dos seus filhos, ainda que tenham consciência que são as figuras de autoridades na família. Por outro lado, as famílias permissivas, apresentam-se pouco exigentes com os seus filhos. Não utilizam qualquer tipo de poder ou força para atingir os objetivos educacionais que pretendem.

Os estudos indicam que adolescentes, filhos de pais que se caracterizam por um estilo parental democrático são mais autoconfiantes, com capacidade de autocontrole, curiosos e satisfeitos, ao passo que os adolescentes de famílias com um estilo autoritário, apresentam um comportamento dependente e submisso, com poucos objetivos e também pouco responsáveis. Os filhos de pais permissivos têm predisposição para serem menos responsáveis e pouco orientados para a realização.

Os pais com um estilo parental democrático, preocupam-se em caracterizar a sua conduta com modelos de responsabilidade social e evidenciam aos filhos a sua preocupação com o seu bem-estar promovendo a autonomia, auto estima e autoconfiança.

Tal como foi referido atrás, alguns pais apresentam-se como facilitadores do processo e das vivências associadas à adolescência, enquanto outros revelam-se extremamente rígidos e outros ainda excessivamente permissivos. Estes dois últimos não orientam os seus filhos, no momento fulcral da estruturação da personalidade, que é a adolescência.

Os filhos naturalmente buscam, de um modo ambivalente, a independência e simultaneamente sentem necessidade dos limites que lhe são impostos. Precisam igualmente de se sentirem amados e admirados, apesar de qualquer característica menos boa que possam ter. Os pais revelam, igualmente, comportamentos ambivalentes, uma vez que se por um lado exigem independência aos seus filhos, por outro bloqueiam a mesma, impondo excessivas regras e limites.

A investigação indica que há influência significativa dos estilos parentais no desenvolvimento psicossocial dos adolescentes.

Os pais democráticos incentivam o diálogo e exercem firme controle nos pontos de divergência sem restringir o adolescente, ao passo que, os pais autoritários procuram modelar, controlar e avaliar o comportamento do adolescente de acordo com as regras de conduta pré-estabelecidas por eles. Os pais permissivos, por seu lado, tentam se comportar de forma não-punitiva e são recetivos aos interesses, desejos e ações do adolescente.

Para alem dos estilos parentais abordados, alguns estudos identificam também o estilo participativo-democrático, que se foca na relação e também na socialização dos filhos.

ATITUDE POSITIVA DOS PAIS E AUTOESTIMA DOS ADOLESCENTES

A investigação indica uma relação significativa e direta entre a atitude positiva e responsabilizadora dos pais e a autoestima dos adolescentes.

A comunicação positiva, a expressão afetiva, as regras, as práticas parentais consistentes, a supervisão, o envolvimento, a atenção emocional e os sentimentos positivos em relação aos pais são exemplos de variáveis promotoras de auto estima, enquanto que as punições inadequadas assim como a comunicação negativa nas relações familiares, estão relacionadas com baixa autoestima.

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

Assim, considero fundamental intervir nas famílias que apresentam dificuldades, de modo a melhorarem as suas relações.

Importa desmistificar o rótulo de adolescente como problema e refletir com as famílias.

É necessário, uma abordagem familiar que implique um programa para pais com algumas etapas. Inicialmente, é solicitado aos pais, que falem sobre os comportamentos dos seus filhos. De seguida, apoia-se os pais e ajudando-os a reconhecer a influência que exercem no comportamento dos filhos. Mais tarde, solicita-se que falem sobre si mesmos. Por fim, são orientados para estabelecerem novas práticas parentais. É fundamental que no final do processo, os pais sejam capazes de diferenciar os comportamentos inadequados que produziam e permaneciam nas suas práticas educativas, de outros adequados que passaram a existir após a intervenção.

Artigo | Revista Insights | 2013

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.

(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)

AUTORA

Dr.ª Márcia Gonçalves 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde.
Especialista em Psicologia da Educação.
Especialista Avançada em Psicoterapia.
Especialista Avançada em Neuropsicologia.
(Especialidades atribuídas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses)